O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

terça-feira, 20 de outubro de 2015

ENTREVISTA: A ESCANDINAVÍSTICA NO BRASIL



Entrevista realizada por Sara Monteiro com prof. Dr. Johnni Langer para monografia em Teoria da História pela UFPR.
 
1) Nome completo, titulação e trajetória institucional:
Johnni Langer, Bacharel, Mestre e Doutor em História pela UFPR; Pós-Doutor em História pela USP. Fui professor de História Antiga na Faculdade Estadual de União da Vitória (PR) e História Medieval no Centro Universitário de Palmas (PR); professor de História Medieval na UFMA e atualmente docente do curso de Pós Graduação em Ciências das Religiões na UFPB.

 
2) Como você definiria sua área de atuação no campo da História?
A Escandinavística é uma área específica dos estudos medievais, que vem recebendo amplo respaldo em diversos países do mundo, inclusive México, África do Sul e Japão, e mais recentemente no Brasil. Ela engloba diversas metodologias, algumas comuns ao estudo da História em geral na atualidade, como as perspectivas culturalistas e da História Cultural; Antropologia Cultural; Semiótica e discurso; estudos literários e História da linguagem; História e cultura material; Cultural visual e história da arte, entre outras.

 
 3) O que te levou, pessoal e/ou intelectualmente, a se interessar por essa área?
Meu interesse começou na infância, com a leitura de quadrinhos e o contato com filmes épicos, como Vikings, os conquistadores. Academicamente, minha trajetória teve início durante a graduação, quando iniciei minhas leituras sobre mitologia medieval, a partir de um curso de extensão ministrado pelo prof. Dr. Hilário Franco Júnior na UFPR em 1986. Posteriormente, realizei estágio pós-doutoral na USP com esse mesmo pesquisador a respeito dos mitos nórdicos.

 
 4) Como você vê o desenvolvimento dessa área no Brasil?
O desenvolvimento é promissor, já foi conquistado muito, mas ao mesmo tempo, a área ainda necessita crescer muito mais. Ocorre a necessidade da criação de mais centros de pesquisa, de pesquisadores e professores atuando em cursos de graduação e pós graduação, com orientações voltadas diretamente para a área. Existem muitos alunos interessados em desenvolver pesquisas neste campo, mas desistem pelo fato de não existirem especialistas ou então, ao menos, medievalistas interessados em orientar o tema.

 
 5) Como se dá a relação entre ela e outras áreas do conhecimento?
A Escandinavística é uma área tradicionalmente multidisciplinar. Quem estuda a mitologia nórdica, por exemplo, recorre a vários outros campos, como estudos de imagem, a relação entre literatura e mito, a tradição oral, as perspectivas da Antropologia, os estudos folclóricos, a codicologia e a paleografia e muitas outras. Os estudos de religiosidade englobam também várias áreas do conhecimento, como a Arqueologia, a geografia e a espacialidade, a relação entre cultura material e a sociedade.

 
 6) Qual a posição desta área de pesquisa em nosso país?
Ainda é muito marginalizada. Em geral, os estudos medievais estão bem consolidados, mas a área escandinava ainda sofre pela falta de profissionais e de uma maior inserção nos grandes centros e laboratórios universitários em geral. Mas o panorama tende a mudar, especialmente pelo amplo interesse popular e de uma nova geração acadêmica ávida pelo mundo nórdico.

 
7) Trata-se de uma área internacionalizada? Como você vê a inserção dos pesquisadores brasileiros em redes de pesquisas internacionais?
A Escandinavística é amplamente internacionalizada nos grandes centros de pesquisa do mundo, mas no Brasil ainda caminhamos a passos pequenos. Muitos membros do NEVE (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos) mantém contato direto com diversos escandinavistas norte-americanos e europeus há muitos anos. Alguns fazem parte de grupos estrangeiros, como Pablo Miranda (integrante do grupo Valland da França). E também temos colaboradores estrangeiros do grupo NEVE registrados no CNPQ, como Neil Price, Terry Gunnnell e Teodoro Antón. Muitos trabalhos produzidos no Brasil já receberam diversas citações internacionais, o mais conhecido é o artigo “The origins of the imaginary viking” (publicado na revista Viking Heritage em 2002) e que recebeu cinco citações em livros e seis em artigos em língua inglesa e francesa. Mais recentemente, uma tese de doutorado na Noruega citou um artigo em português de autoria brasileira. A produtividade brasileira já recebe atenção de pesquisadores europeus e a tendência é que isso aumente ainda mais. O panorama futuro é que alguns brasileiros participem de estágios na Europa e que colaborem diretamente com pesquisas em andamento ou tenham inserção maior em grupos estrangeiros.