O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

A rocha da Bruxa: um conto folclórico islandês



A ROCHA DA BRUXA: UM CONTO FOLCLÓRICO ISLANDÊS
Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE/VIVARIUM)
A Islândia é uma região muito rica em narrativas orais e folclóricas, sendo grande parte delas referente a seres mágicos e fantásticos. Apresentamos a seguir uma adaptação de um conto islandês recolhido por Jón Árnason, baseada na tradução de González (2008). Nela percebemos muitos elementos que já existiam na imaginação nórdica antes do cristianismo, como a transformação de seres ctônicos em rocha pela exposição ao Sol (como o anão citado no Alvíssmál); a prática de maldições proferidas por personagens femininos (a exemplo da Buslubœn). Outros motivos literários, por sua vez, penetraram na Escandinávia por via continental, a partir do século XIII d. C., com a onda do diabolismo e da bruxaria enquanto imagem estereotipada. A exemplo de várias sagas islandesas, a proximidade da noite do Natal (Jól) é um momento em que o fantástico emerge, ou então, seres sobrenaturais contatam os humanos. No conto, percebemos o tema da bruxa e do Troll fundidos em seres que devoram cristãos, que ameaçam a normalidade da sociedade e as regras da comunidade. Mas ao mesmo tempo, estes seres fantásticos definem o espaço selvagem ou da natureza – eles nomeiam e ao mesmo tempo se fundem com cavernas, gelo, montanhas. Para o folclore, as bruxas ainda são figuras poderosas e a maior prova de sua longevidade são as narrativas preservadas pela literatura.
 

Na cidade de Kirkjubaer, pertencente à região de Hroarstunga, Islândia, existe um curioso penhasco chamado Skersl. Em seu interior existe uma cova em que muito tempo atrás viveu um Troll e sua esposa, uma bruxa. Seu nome era Thorir, mas o nome dela não foi preservado. Todo ano eles utilizavam a magia para atrair até eles tanto o presbítero de Kirkjubaer quanto o sacerdote, logo tanto um como o outro desapareceram e nunca mais se soube deles, até que um presbítero chamado Eirikur chegou à Igreja e protegeu a si mesmo e aos fiéis com suas orações, fazendo com que todos os esforços dos Trolls fosse em vão.
Assim seguiram as coisas até que no dia da Véspera de Natal, a medida em que a noite avançava, a bruxa se deu conta de que não teria nenhuma possibilidade de capturar nem ao presbítero nem o sacerdote, de maneira que renunciou ao seu propósito e comentou ao seu marido:
“Tenho intentado enfeitiçar ao presbítero e ao cura com todas as minhas forças, porém não tenho conseguido, pois cada vez que lanço meu feitiço sinto como se um hálito quente vem a mim e abrasa todos os meus ossos, pelo que tenho que parar. Por isso você terá que procurar comida, pois não temos nada para comer nesta cova”.
O gigante disse que não queria, mas finalmente sua mulher o convenceu. Saiu da cova e se dirigiu até o largo das montanhas que atualmente se chamam em sua honra cordilheira de Thorir e finalmente chegou a um lago que desde então também se conhece como o lago de Thorir. Ali com um tremendo golpe fez um buraco no gelo e lançou sua vara; deste modo pode capturar muitos e grandes peixes através desta vara no gelo. Estava nevando com intensidade. Quando ele pensou que já havia pescado muitos peixes, quis levantar-se para ir embora, porém a nevasca o havia pego no chão e não pode ficar de pé. Tentou por muito tempo, lutou com ousadia, porém em vão, e ali permaneceu no local até que acabou morrendo.
A bruxa começou a pensar que seu marido tardava muito e foi enraivecendo cada vez mais. Saiu correndo da cova pelo mesmo caminho que o gigante, sobre a cordilheira, até que finalmente o encontrou sem vida sobre o gelo. Durante muito tempo tentou levantá-lo do gelo e quando viu que não havia nenhuma possibilidade, pegou a corda com peixes e a lançou acima do gigante enquanto recitava:
“Por estas palavras que digo e esta maldição que eu lanço, desde agora em diante nenhum peixe será pescado neste lago”
E estas palavras se converteram em realidade, pois a partir deste momento não se pode pescar absolutamente nada neste lago.
A bruxa retornava cabisbaixa para sua cova, porém em plena caminhada pela montanha duas coisas sucederam simultaneamente: viu sair o sol pelo leste e escutou o som dos sinos de uma Igreja. Ambas as coisas, como já sabemos, são fatais para os Trolls. Instantaneamente, se converteu em uma rocha, além da cordilheira, e desde então esse local se chama a Rocha da Bruxa.
 
Referências:
GONZÁLEZ, Edorta. La roca de la bruja (Islândia). In: Leyendas y cuentos vikingos. Madrid: Miraguano Ediciones, 2008, pp. 203-204.
LANGER, Johnni. Alvissmál. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica. São Paulo: Hedra, 2015, pp. 27-28.
LANGER, Johnni. Bruxaria nórdica. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica. São Paulo: Hedra, 2015, pp. 83-85.